Por trás da morte do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, de 41 anos, há uma sequência de ameaças e exigência de pagamento de valor milionário em troca de retirar notícias de um site que falavam da ascensão econômica de um empresário dos ramos de cooperativa de saúde e postos de combustíveis.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso disse à Polícia Civil do Ceará (PC-CE) que teria se desentendido com o advogado devido a "matérias jornalísticas e postagens em grupos de Whatsapp" que falaram da sua ascensão financeira.
Tudo começou, segundo Ernesto, quando ele negou ao deputado federal pelo Ceará Júnior Mano (PL) parte do dinheiro das emendas federais que o parlamentar direcionou para a área da saúde.
Dias depois, teriam começado a circular no Don7 Media Group, do jornalista Donizete Arruda, notícias que Ernesto tinha cavalos de valores milionários e matérias jornalísticas de denúncias contra a cooperativa de saúde a qual Ernesto era diretor. "Tais postagens foram encaradas pelo denunciado Ernesto como ataques à sua pessoa e que suscitavam dúvidas quanto a lisura de seu patrimônio", conforme trecho da denúncia.
A denúncia do Ministério Público do Ceará sobre o homicídio não encerra as investigações ligadas ao crime. A Polícia Civil apura pelo menos dois crimes ligados à morte do advogado Francisco Di Angelis Duarte de Morais.
A reportagem apurou que a DRF já instaurou um novo inquérito para apurar a denúncia de extorsão, que o acusado de homicídio, o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso, teria sofrido. Já o objetivo da Decor é apurar um suposto desvio de verbas públicas.
O deputado federal Júnior Mano e o jornalista Donizete Arruda - que foram arrolados como testemunhas na denúncia do MPCE - foram procurados pela reportagem. Até o fechamento da matéria, o jornalista não havia respondido, já o deputado Júnior Mano enviou uma nota.
“A referência ao nome do Dep. não encontra nenhum respaldo no contexto probatório, tratando-se de uma versão isolada e inverídica apresentada apenas pelo acusado com objetivos políticos e de ofuscar o grave crime pelo qual está preso e respondendo perante a Justiça Criminal.", diz a jota só deputado.
Reiteramos nosso compromisso com a transparência, a ética e a veracidade dos fatos, e confiamos nos órgãos responsáveis pela persecução penal, dos quais estamos inteiramente à disposição.”, completou.
"Segundo a versão do acusado Ernesto, é de conhecimento público a relação entre o deputado federal e o jornalista responsável pela divulgação das notícias desabonadoras. Isso ficou evidenciado, quando o acusado teria entrado em contato com o deputado federal, reclamando das notícias veiculadas pelo Don7 Media Group. Em resposta, o deputado federal teria usado de ironia, afirmando ao acusado Ernesto que iria corrigir o jornalista, pois ele (o jornalista) teria errado o nome do acusado, escrevendo o nome "Ernane", ocasião que se confirmou que as matérias então publicadas também interessavam ao deputado federal.", disse o Ministério Público do Ceará na denúncia.
Para que as matérias saíssem do site, ainda no mês de março deste ano, começaram as negociações entre Di Angellis (responsável jurídico pelo grupo de comunicação) junto ao empresário. Primeiro, segundo Ernesto, foi exigido o valor de R$ 1,5 milhão, tendo ele ficado inconformado com a elevada quantia proposta. "Inicialmente, o acusado não se comprometeu a pagar a quantia. Contudo, aconselhado por amigos, buscou renegociar o valor da extorsão.", disse ainda a denúncia.
Outro empresário do ramo de cooperativa de saúde - além de ser proprietário de lojas de veículos - procurou, então, Ernesto, "para resolver as matérias publicadas por Donizete contra a sua pessoa". Um encontro foi marcado, em uma cafeteria, no bairro Dionísio Torres, com a presença de Lúcio, do advogado Francisco Di Angelis e de outro empresário do ramo de cooperativas de saúde.
Que Moraes (o advogado) foi claro que o interrogando teria que pagar uma quantia em dinheiro para que Donizete retirasse as matérias que o atacassem dos seus veículos de comunicação. Que Moraes se dirigia apenas para o interrogando. Que Moraes teria proferido diversas vezes que 'Doni' (Donizete) só iria retirar as matérias quando interrogando pedisse desculpas a Júnior Mano.", disse Ernesto em depoimento à Polícia Civil.
Com a intervenção do empresário do ramo de veículos, o valor baixou para R$ 800 mil, que foi levantado por ele próprio, para ajudar o amigo. Ernesto recebeu o dinheiro e levantou um empréstimo bancário nesse valor, para pagar o colega.
Os R$ 800 mil foram entregues por Ernesto Wladimir para o advogado Francisco Di Angelis, em uma padaria, no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), na manhã de 28 de abril deste ano, segundo o suspeito preso.
Após o pagamento, Ernesto afirmou que "foram apagadas as matérias veiculadas por Donizete contra a sua pessoa. Que após esse fato, não teve mais contato com a vítima. Que soube por meios jornalísticos depois que ela teria sido assassinada".
Diário do Nordeste
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