Exigir que um eleitor "fique em silêncio" porque apoiou uma gestão anterior ignora o papel do cidadão na construção de uma sociedade mais justa e participativa. A crítica, mesmo vinda de quem já apoiou outro governo, é um sinal de engajamento e de responsabilidade social. As preferências políticas e as realidades de gestão mudam. A crítica a uma gestão não necessariamente significa que se prefere a anterior, mas pode ser um reflexo das circunstâncias atuais. Cada administração tem seus méritos e problemas, e os eleitores têm o direito de julgar cada uma delas com base no momento e nas decisões tomadas.
Do mesmo modo as lutas sindicais têm uma longa trajetória na defesa dos direitos dos trabalhadores. A consciência sindical não surge abruptamente após a perda de cargos comissionados; ela é fruto de uma construção contínua ao longo do tempo, embasada em conquistas históricas, como direitos trabalhistas, férias, salários justos e condições dignas de trabalho. Tudo isso é impulsionado por uma ampla gama de motivações, como a busca por melhores condições de trabalho, remuneração adequada, direitos sociais e a resistência a abusos. Reduzir a participação sindical a um único motivo, como a perda de um cargo comissionado, ignora a complexidade e diversidade das demandas trabalhistas.
Ao se afirmar que a maioria dos envolvidos na luta sindical age por esse motivo específico (politico) se incorre em uma generalização equivocada. Nem todos os sindicalistas ou ativistas estão nessa situação; muitos se engajam por convicção e pelo desejo de melhorar as condições de trabalho para todos, independentemente de vínculos anteriores. Ao ser sugerirido que as pessoas lutam por direitos apenas após perderem benefícios pessoais, o argumento diminui a legitimidade daqueles que participam de movimentos sindicais e sociais. Essa visão limitada pode prejudicar o debate sobre as verdadeiras necessidades e condições enfrentadas pelos trabalhadores.
Uma democracia saudável se baseia na diversidade de opiniões e pontos de vista. Nenhum eleitor, por mais informado ou experiente que seja, pode ter uma visão completa e definitiva sobre todos os aspectos da política. Cada pessoa tem vivências diferentes, prioridades distintas e informações diversas, o que enriquece o debate público. Portanto, acreditar que a própria visão é superior à de outros pode desvalorizar contribuições válidas de outras perspectivas.
A política é complexa e envolve múltiplas dimensões, como economia, educação, saúde, meio ambiente e direitos sociais. Ninguém, individualmente, tem o domínio de todas essas áreas. Quando um eleitor assume que sua visão é a única correta, ele ignora as nuances e desafios que diferentes grupos enfrentam. O que pode parecer uma solução ideal para uma pessoa pode ser insuficiente ou prejudicial para outra, dependendo de sua realidade.
Em uma sociedade plural, a humildade é uma virtude fundamental. Reconhecer que outros eleitores podem ter visões diferentes, mas igualmente válidas, é parte essencial do processo democrático. Todos têm algo a contribuir, e cada visão pode complementar e enriquecer a discussão, levando a decisões mais equilibradas.
Antes de acusar a oposição de politicagem, é necessário reconhecer as falhas da gestão atual. Admitir os erros é o primeiro passo para uma discussão política mais honesta e produtiva. Sem essa transparência, qualquer crítica à oposição se torna uma distração dos problemas reais que precisam ser resolvidos.
Daniel Filho
Servidor Federal
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