📷 O suíço Valerian Escher estabeleceu a vida em Jeri, ao lado da brasileira Letícia Alves |
Com mais de 600 mil visitantes anualmente, Jericoacoara, cidade a 300 quilômetros de distância de Fortaleza (Ceará), tem um evidente apelo entre os turistas estrangeiros. Basta estar atento a quem circula pelas ruelas da vila de três mil habitantes. Argentinos vendendo empanadas, franceses surfando, italianos donos de hotéis e israelenses passeando são frequentemente vistos pelas estreitas ruas de areia
O destino ganhou fama internacional nos anos 1980, quando o jornal norte-americano "The Washington Post" fez uma matéria sobre a até então desconhecida vila de pescadores do litoral cearense.
Em 1994, o mesmo jornal definiu Jericoacoara como uma das dez praias mais bonitas do mundo. Uma década depois, foi a vez da editora de guias de viagem "Lonely Planet" eleger Jeri como a praia mais bela do planeta. A partir daí, o local passou a receber cada vez mais turistas, tanto brasileiros quanto estrangeiros, principalmente após a inauguração do Aeroporto de Jericoacoara, em 2017.
O português Telmo Coutinho, que esteve durante uma semana em Jericoacoara no último mês de janeiro, afirma que decidiu visitar o município cearense depois da indicação de conhecidos. Fiquei sabendo sobre Jeri através de comentários de amigos que já tinham estado lá e por fotos da internet. Gostei muito da tranquilidade da vila e do mar calmo."
Ele também acredita que, apesar do movimento intenso de turistas estrangeiros em Jericoacoara, o destino não está na lista dos mais famosos entre os portugueses: "Acho que no momento há lugares mais famosos no Brasil, mas já se ouve falar bastante em Jeri", completa o europeu, que além do Ceará também visitou Piauí e Maranhão. Segundo dados da SETUR-CE (Secretaria de Turismo do Ceará), os portugueses correspondem a 6,5% dos turistas estrangeiros que visitaram Jericoacoara em 2019.
Vanessa Freire, que trabalha como guia turística há 15 anos em Jericoacoara, acredita que há diversos perfis de turistas que são atraídos pela qualidade de vida. Aqui é o paraíso, muitos estrangeiros vêm passar férias para fugir do frio da Europa ou porque o país está em crise, como os argentinos. Por isso, muitos deles passam uma temporada, gostam e acabam abrindo um negócio ou ficando para trabalhar."
Outra nacionalidade que circula pela cidade é a israelense — somente no voo deste repórter, duas jovens exibiam o passaporte azul no idioma hebraico. Muitos vêm fazer mochilão pelo Brasil depois de completar o serviço militar em seu país porque eles recebem uma quantia em dinheiro quando terminam. Lembrando que, em Israel, tanto homens quanto mulheres são obrigados a servir ao exército por pelo menos dois anos.
Um desses estrangeiros que viram em Jeri uma boa oportunidade de fazer negócios é Valerian Escher, suíço de 31 anos natural de Genebra. Professor de educação física em seu país natal, Valerian chegou a Jericoacoara como turista e acabou se estabelecendo na cidade nordestina após conhecer sua esposa, a brasileira Letícia Alves, com quem, em 2019, abriu a pousada Raiz Kite Cabana, localizada na praça principal da vila de Jeri. "Vim para o Brasil para praticar kitesurf porque o Ceará é mundialmente conhecido por isso. Queria conhecer novos lugares, culturas, pessoas, comidas. Encontrei a minha esposa no final da minha primeira viagem de cinco semanas."
📷 Letícia Alves e Valerian Escher, na pousada Raiz Kite Cabana |
Não demorou muito para Valerian decidir ficar de vez em Jeri, já que suas duas paixões estavam lá: Letícia e o kitesurf. Nos casamos e desenvolvemos nosso projeto, o Raíz Kite Cabana. Poder morar em um paraíso, praticar kitesurf e estar com meu amor não foi uma escolha tão difícil", completa.
Brasileiros e estrangeiros são unânimes ao apontar os motivos pelos quais os gringos visitam e, não raramente, decidem ficar de vez em Jericoacoara. A gastronomia, a receptividade, o clima e a beleza natural são fatores determinantes na hora de escolher o destino. Telmo, por exemplo, justifica que o bom tempo pesa muito na hora de escolher onde passar suas férias, e também acrescenta que para um europeu "o câmbio, o custo de vida, a segurança e os esportes aquáticos" são pontos importantes que pesam a favor de Jeri.
📷 Valerian Escher praticando Kitesurf |
Além disso, a oportunidade de poder investir e crescer na região faz com que Valerian pense duas vezes em voltar para a Suíça: "Criar meu próprio negócio hoje é quase impossível no meu país. Apesar da burocracia brasileira, principalmente dos serviços públicos, e da rejeição de alguns poucos locais com os estrangeiros, não me vejo voltando para a Suíça tão cedo", conclui. Entretanto, admite que no futuro o regresso é quase certo: "Quando tivermos filhos, seria melhor voltar a Europa para ter acesso a uma educação de qualidade".
Quando o tema é educação, Vanessa garante que aprende diariamente com os gringos e que essa é a principal diferença entre os brasileiros e os estrangeiros em Jericoacoara: Você tem que viajar, estudar e se capacitar para expandir os horizontes, os gringos têm compromisso e se interessam em aprender novos idiomas e culturas, o brasileiro geralmente não. Por isso, muitos deles acabam tendo sucesso por aqui e ficam de vez.".
Blog O Acaraú com informações do Portal UOL
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