O fotógrafo e guia de turismo José Gleison da Silva, 32, foi o responsável pelos registros em imagens dos últimos momentos do turista paulista Uilgner Rodrigues, 30, que morreu afogado na lagoa de Buraco Azul, atração turística do município de Cruz, no litoral do Ceará. Ele conta, em entrevista ao UOL, que a namorada do rapaz chegou a pedir para que ele não entrasse na água, mas ele estava empolgado e disse que daria "uma de Michael Phelps".
Com mais de 14 anos de experiência como guia e condutor de buggy na região de Jericoacoara, Silva conta que nunca tinha vivido momentos tão dramáticos em sua vida. Por dois dias, Gleison e a esposa, Ana Joyce, 27, acompanharam Uilgner e a namorada, Bianca Carvalho, a uma série de passeios em atrações turísticas na área.
No dia do acidente, segunda-feira, 21, Silva e a esposa foram pegar o casal logo cedo na pousada. O roteiro era a região leste de Jericoacoara, que incluía visitas à Praia do Preá, Árvore da Preguiça, Lagoa Paraíso e o Buraco Azul. Visitar o Buraco Azul, aliás, era um desejo do turista, segundo Silva.
Depois de tomar água de coco na praia do Preá, o grupo seguiu em direção ao Buraco Azul, lagoa artificial, resultado do acúmulo de água da chuva sobre uma cratera gerada pela extração de areia usada na construção de uma rodovia.
"Assim que chegamos, por volta do meio-dia, O Uilgner e a Bia foram se trocar para fazermos mais uma sessão de fotos. Fiz fotos deles no balanço de coração, na jangadinha que tem lá. Mas o Uilgner não queria mais posar para as fotos, queria se divertir. Então ele disse que ia nadar. A Bia pediu para ele não ir, para continuar a fazer as fotos, mas ele não quis. Ele estava muito empolgado", conta o guia.
A esposa de Silva, Joyce, chegou a perguntar se ele sabia nadar, pois a lagoa é funda. "Ele brincou, dizendo que sabia, sim, e que ia dar uma de Michael Phelps (nadador norte-americano). Continuei tirando fotos da Bia, mas ela não conseguia se concentrar mais. Ficava o tempo todo de olho no namorado, na água".
Poucos minutos depois, diz Silva, Bia começou a gritar. Ela foi a primeira pessoa a ver que ele estava se afogando. "Ele gritou por socorro e ela ouviu. Todo mundo correu e eu vi um salva-vidas chegando perto dele e jogando uma boia. Ele chegou a tocar no braço do Uilgner, mas em segundos ele afundou. Ficamos mergulhando, eu, os salva-vidas e alguns turistas que estavam lá, mas começou a chover forte e a água ficou turva. Não tinha como achá-lo".
Somente cerca de 15 minutos depois ele teria sido encontrado, no fundo da lagoa. "Levaram ele para o deque e começaram a fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca. O local não tem infraestrutura para emergências e parecia que os salva-vidas não eram treinados para isso".
Sem uma ambulância no local, os turistas conseguiram obrigar o piloto de um helicóptero que realizava passeios na área a levar o turista para a UPA de Jericoacoara. "Pegamos a Bia, colocamos no buggy e corremos até a UPA. Chegamos em 20 minutos, mas o helicóptero demorou muito mais tempo".
Silva conta que o trajeto do helicóptero teria sido desviado para um posto de saúde na Praia do Preá, mais perto do Buraco Azul, mas que não tem equipamentos necessários. Quando, enfim, o turista chegou à UPA de Jericoacoara, já estava morto.
"A Bia desmoronou. Tiramos ela da pousada e a levamos para casa, para cuidar dela. Passamos poucos dias juntos, mas eu e minha esposa nos apegamos demais aos dois. Apesar de todo o esforço, a gente se sente impotente, se sente mal, com um sensação de culpa, afinal eu era o guia. Mas salvar o Uilgner era algo que estava além do meu alcance. O que me consola é que ele morreu no auge da felicidade, da alegria", diz Silva.
Blog O Acaraú com informações do UOL