Uma das praias mais procuradas do Brasil enfrenta problemas com o recolhimento e a reciclagem de resíduos
Riscos
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Resíduos são deixados na entrada da vila devido problemas com o carro coletor |
O casal que, neste ano, optou por passar as férias no Ceará pela primeira vez, separa o lixo reciclável do orgânico e todos os dias o entrega na recepção da pousada. Mas, para a surpresa negativa, o recepcionista avisa que a coleta seletiva na praia que é considerada uma das mais linda do mundo, praticamente inexiste. Esta é a situação de Jericoacoara, onde a ausência desta separação somada à coleta irregular do lixo, tem degradado o local, que recebe, em média, 600 mil visitantes por ano.
O "lixão improvisado", criado na entrada de Jeri, é a recepção desagradável e preocupante, na atual alta estação. Felizmente, parte da população de nativos e visitantes responde a esta conduta prejudicial e tenta sanar os problemas da alta produção de resíduos sólidos no local.
O poder público alega problemas burocráticos e diz esforçar-se para resolver a situação. Mas, a produção de lixo na vila, que tem 3.600 moradores, concentra 127 pousadas e 80 restaurantes e entre 25 de dezembro de 2014 e ontem recebeu 50 mil turistas, segue alta.
Campanha
Neste período de elevada visitação, o volume de lixo no local chega, em média, a 80 toneladas por dia, segundo a empresária Sônia Cavalcante, que, devido às carências no serviço prestados pela Prefeitura, em dezembro, organizou uma campanha com um grupo de empresários para recolhimento dos resíduos.
Neste período de elevada visitação, o volume de lixo no local chega, em média, a 80 toneladas por dia, segundo a empresária Sônia Cavalcante, que, devido às carências no serviço prestados pela Prefeitura, em dezembro, organizou uma campanha com um grupo de empresários para recolhimento dos resíduos.
Problemas com a empresa que recolhia o lixo em Jeri, reconhecidos pela Prefeitura, fizeram com que o serviço sofresse interferências nos últimos meses. No fim do ano, um destes caminhões de coleta quebrou e o serviço ficou desfalcado. Diante da situação e tendo em vista o aumento da demanda a partir do Natal, este grupo contratou um caminhão para realizar a limpeza da vila entre os dias 25 de dezembro e 17 de janeiro. O valor de R$ 25 mil pagos pelo serviço foi rateado entre donos de bares e pousadas.
"Como tivemos problema com o caminhão, o secretário de turismo encontrou a alternativa de retirar das ruas e levar para as proximidades da Estação de Tratamento da Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) na entrada da vila", conta Sônia.
O titular da Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Jijoca, José Bezerra, confirma o improviso e garante que, no local, foi feita uma vala para estação de transbordo. De acordo com ele, quando deslocava-se para Jijoca, o caminhão fazia apenas duas viagens por dia. Ao deixar o lixo na entrada da vila passou a fazer seis, tornando mais contínuo o recolhimento.
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Uma lei municipal restringe o tráfego de veículos nas vias da vila, mas de forma recorrente a norma é desrespeitada e o fluxo é intenso |
O lixo produzido em Jericoacoara vai, na condição regular, para a comunidade de Baixio, próximo a Jijoca, município do qual Jericoacoara é distrito. Na região não existe aterro. Nas cinco ruas que cortam Jeri (das Dunas, São Francisco, Principal, do Forró e da Igreja) há alto volume de lixo, mas o acúmulo constatado pela equipe do Diário do Nordeste, que esteve em Jeri no fim de semana passado, foi, sobretudo, na Rua das Dunas.
O guia de turismo, Veridiano Vitor, nativo de Jericoacoara, reforça a situação. De acordo com ele, somente os três corredores principais têm a coleta frequente, e esta, ainda assim, não é suficiente em época de alta estação. Vitor lamenta a situação e pede mudança, já que, de acordo com ele, o lixo que se acumula na Rua das Dunas, com o vento, vai para as Dunas (cartão postal de Jeri) e posteriormente segue para o mar. "Queremos cuidar desse lugar, que ele permaneça bom e temos medo do que essa poluição pode provocar".
Na Rua São Francisco, a proprietária de um bar, Roberta Gonçalves, relata que, nos últimos meses, a via tem passado até cinco dias sem receber a coleta. "Agora na alta estação perdi alguns clientes devido ao odor do lixo acumulado", conta.
A situação incomoda e frequentadores lamentam. Para o casal de turistas Francisco Frederico e Jane Frederico, de São Paulo, que mantém o hábito de separar o lixo reciclável, a sensação é de temor quanto à sustentabilidade do local, que é naturalmente encantador. "O que se faz aqui é uma exploração predatória. Em São Paulo, o litoral norte passou pelo mesmo processo e a nossa geração viu Parati e Angra sofrerem com devastação e falta de cuidado. Isso entristece", reforça a administradora.
Emergência
Outro problema que afeta a vila onde o turismo, em 2013, movimentou cerca de R$ 430,37 milhões na economia local, é a falta de uma unidade de saúde de emergência. Jeri conta apenas com um posto de saúde, que funciona de segunda a sexta-feira. Uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) foi construída no distrito e, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, está sendo equipada e "deverá ser inaugurada em breve". A pasta não precisou a data de entrega.
Apesar de proibido, tráfego de veículos é constante na vila
Em Jericoacoara, a Lei Municipal N° 289/2010, determina que, ao chegar a vila, visitantes devem deixar o carro no estacionamento administrado pela Prefeitura, localizado na entrada. Para guardar o veículo é cobrada uma taxa diária de R$ 10,00. O visitante pode entrar com o veículo na vila somente para deixar as bagagens no lugar onde ficará hospedado, tendo que, em seguida, retornar com o veículo para o estacionamento.
Moradores também são proibidos de trafegar com carros nas vias de Jeri e as pousadas e hotéis não podem admitir automóveis em seus estacionamentos. A legislação municipal prevê que, caso a restrição não seja cumprida, o condutor deve ser multado por estacionar em local não permitido, infração média. A Lei, porém, é desrespeitada de forma recorrente e, nas vias de Jericoacoara, o fluxo de carro, hoje, chega a ser intenso. Condutores também desrespeitam o sentido das três ruas principais e trafegam na contramão.
Como o trânsito no distrito não é municipalizado, cabe ao Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE) fiscalizar as irregularidades. Conforme o órgão, o estabelecimento da restrição ocorreu na gestão municipal passada e, na atual gestão, o órgão enfrentou resistência do gestor para dar continuidade à fiscalização. O Detran garante, no entanto, que hoje mantém uma fiscalização ativa na vila de Jeri.
Entre os moradores, a reclamação sobre o desrespeito à norma é recorrente. A estimativa da Secretaria de Turismo do Município de Jijoca é que, do dia 25 de dezembro de 2014 até ontem, cerca de sete mil veículos passaram pelo estacionamento
Prefeitura alega crise financeira
Diante das queixas quanto à precariedade na coleta de lixo e à administração do estacionamento, o prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Francisco Lindomar (PSD), alegou que a administração passa "por uma crise financeira" e que a vila, apesar de ser um distrito, "tem potencial de uma cidade". "Nós estamos com recurso para sustentar uma cidade, porém temos que sustentar duas", argumenta o gestor.
O prefeito explicou que, no fim do ano passado, houve um problema com um dos carros que recolhe o lixo de Jericoacoara e, por isso, o Município "improvisou" a solução na entrada da vila, em um acordo com a Cagece. Ele garante, porém, que até hoje o "lixão" será desfeito.
O secretário de turismo de Jijoca, José Bezerra, explicou que a coleta seletiva foi retomada no dia 12 de dezembro e deverá ser intensificada com o funcionamento pleno dos caminhões que recolhem o lixo. "Os empreendedores se comprometeram em separar os resíduos. Em contrapartida, a Prefeitura reinstaurou a usina de reciclagem", garantiu.
Perguntado sobre a adequação do município à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a construção de aterros sanitários e o fim dos lixões, Lindomar garantiu que há um projeto em discussão para a constituição de um consórcio entre Jijoca, Cruz, Acaraú e Itarema. Mas, não estimou prazos para a instalação do aterro.
Em relação ao estacionamento, Lindomar disse que o dinheiro arrecadado no local serve para manutenção do equipamento, que tem 14 funcionários. "É recurso próprio e ele serve, muitas vezes, para cumprir as brechas no município, inclusive garantir a folha de pagamento".
Já a Secretaria de Turismo do Estado (Setur), informou, em nota, que "exerce papel de mobilização e incentivo às autoridades locais para minimizar esses problemas". Indagada sobre o desordenamento e a carência de serviços, a pasta diz que "reuniões periódicas são realizadas com a Prefeitura de Jijoca para garantir o ordenamento do trânsito e reforçar a importância da preservação do destino turístico".
FIQUE POR DENTRO
Jeri é cercada por Parque Nacional
A Vila de Jeri é circundada pelo Parque Nacional de Jericoacoara, criado em fevereiro de 2002, com área de 8.416 hectares. A Unidade de Conservação (UC) é da categoria proteção integral e está localizada nos municípios de Cruz e Jijoca de Jericoacoara.
Em 2007, foram ajustados os limites do Parque, que tem como objetivo proteger amostras dos ecossistemas costeiros, servir como fonte de pesquisa científica e favorecer o turismo ecológico. O Parque é composto por paisagens como serrote, restinga, dunas, lagoas, manguezal e praia. Ele possui atrativos que incluem a prática de esportes náuticos, como windsurfe, kitesurfe, surfe e Stand Up Paddle.
Por ser uma área de proteção, é proibido aos visitantes o trânsito de veículos automotores sobre dunas fixas ou móveis, o descarte de lixo, a coleta de espécies da fauna silvestre e a produção de fogueiras no interior do Parque que é administrado pelo Instituto Chico Men
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