sábado, 17 de janeiro de 2015

BELEZA POLUÍDA: Com coleta irregular, lixo recepciona turistas em Jeri

Uma das praias mais procuradas do Brasil enfrenta problemas com o recolhimento e a reciclagem de resíduos
Resíduos são deixados na entrada da vila devido problemas com o carro coletor
O casal que, neste ano, optou por passar as férias no Ceará pela primeira vez, separa o lixo reciclável do orgânico e todos os dias o entrega na recepção da pousada. Mas, para a surpresa negativa, o recepcionista avisa que a coleta seletiva na praia que é considerada uma das mais linda do mundo, praticamente inexiste. Esta é a situação de Jericoacoara, onde a ausência desta separação somada à coleta irregular do lixo, tem degradado o local, que recebe, em média, 600 mil visitantes por ano.

O "lixão improvisado", criado na entrada de Jeri, é a recepção desagradável e preocupante, na atual alta estação. Felizmente, parte da população de nativos e visitantes responde a esta conduta prejudicial e tenta sanar os problemas da alta produção de resíduos sólidos no local.

O poder público alega problemas burocráticos e diz esforçar-se para resolver a situação. Mas, a produção de lixo na vila, que tem 3.600 moradores, concentra 127 pousadas e 80 restaurantes e entre 25 de dezembro de 2014 e ontem recebeu 50 mil turistas, segue alta.

Campanha
Neste período de elevada visitação, o volume de lixo no local chega, em média, a 80 toneladas por dia, segundo a empresária Sônia Cavalcante, que, devido às carências no serviço prestados pela Prefeitura, em dezembro, organizou uma campanha com um grupo de empresários para recolhimento dos resíduos.

Problemas com a empresa que recolhia o lixo em Jeri, reconhecidos pela Prefeitura, fizeram com que o serviço sofresse interferências nos últimos meses. No fim do ano, um destes caminhões de coleta quebrou e o serviço ficou desfalcado. Diante da situação e tendo em vista o aumento da demanda a partir do Natal, este grupo contratou um caminhão para realizar a limpeza da vila entre os dias 25 de dezembro e 17 de janeiro. O valor de R$ 25 mil pagos pelo serviço foi rateado entre donos de bares e pousadas.

"Como tivemos problema com o caminhão, o secretário de turismo encontrou a alternativa de retirar das ruas e levar para as proximidades da Estação de Tratamento da Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) na entrada da vila", conta Sônia.

O titular da Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Jijoca, José Bezerra, confirma o improviso e garante que, no local, foi feita uma vala para estação de transbordo. De acordo com ele, quando deslocava-se para Jijoca, o caminhão fazia apenas duas viagens por dia. Ao deixar o lixo na entrada da vila passou a fazer seis, tornando mais contínuo o recolhimento. 
Uma lei municipal restringe o tráfego de veículos nas vias da vila,
mas de forma recorrente a norma é desrespeitada e o fluxo é intenso
Riscos
O lixo produzido em Jericoacoara vai, na condição regular, para a comunidade de Baixio, próximo a Jijoca, município do qual Jericoacoara é distrito. Na região não existe aterro. Nas cinco ruas que cortam Jeri (das Dunas, São Francisco, Principal, do Forró e da Igreja) há alto volume de lixo, mas o acúmulo constatado pela equipe do Diário do Nordeste, que esteve em Jeri no fim de semana passado, foi, sobretudo, na Rua das Dunas.

O guia de turismo, Veridiano Vitor, nativo de Jericoacoara, reforça a situação. De acordo com ele, somente os três corredores principais têm a coleta frequente, e esta, ainda assim, não é suficiente em época de alta estação. Vitor lamenta a situação e pede mudança, já que, de acordo com ele, o lixo que se acumula na Rua das Dunas, com o vento, vai para as Dunas (cartão postal de Jeri) e posteriormente segue para o mar. "Queremos cuidar desse lugar, que ele permaneça bom e temos medo do que essa poluição pode provocar".

Na Rua São Francisco, a proprietária de um bar, Roberta Gonçalves, relata que, nos últimos meses, a via tem passado até cinco dias sem receber a coleta. "Agora na alta estação perdi alguns clientes devido ao odor do lixo acumulado", conta.

A situação incomoda e frequentadores lamentam. Para o casal de turistas Francisco Frederico e Jane Frederico, de São Paulo, que mantém o hábito de separar o lixo reciclável, a sensação é de temor quanto à sustentabilidade do local, que é naturalmente encantador. "O que se faz aqui é uma exploração predatória. Em São Paulo, o litoral norte passou pelo mesmo processo e a nossa geração viu Parati e Angra sofrerem com devastação e falta de cuidado. Isso entristece", reforça a administradora.

Emergência
Outro problema que afeta a vila onde o turismo, em 2013, movimentou cerca de R$ 430,37 milhões na economia local, é a falta de uma unidade de saúde de emergência. Jeri conta apenas com um posto de saúde, que funciona de segunda a sexta-feira. Uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) foi construída no distrito e, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, está sendo equipada e "deverá ser inaugurada em breve". A pasta não precisou a data de entrega.

Apesar de proibido, tráfego de veículos é constante na vila

Em Jericoacoara, a Lei Municipal N° 289/2010, determina que, ao chegar a vila, visitantes devem deixar o carro no estacionamento administrado pela Prefeitura, localizado na entrada. Para guardar o veículo é cobrada uma taxa diária de R$ 10,00. O visitante pode entrar com o veículo na vila somente para deixar as bagagens no lugar onde ficará hospedado, tendo que, em seguida, retornar com o veículo para o estacionamento.

Moradores também são proibidos de trafegar com carros nas vias de Jeri e as pousadas e hotéis não podem admitir automóveis em seus estacionamentos. A legislação municipal prevê que, caso a restrição não seja cumprida, o condutor deve ser multado por estacionar em local não permitido, infração média. A Lei, porém, é desrespeitada de forma recorrente e, nas vias de Jericoacoara, o fluxo de carro, hoje, chega a ser intenso. Condutores também desrespeitam o sentido das três ruas principais e trafegam na contramão.

Como o trânsito no distrito não é municipalizado, cabe ao Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE) fiscalizar as irregularidades. Conforme o órgão, o estabelecimento da restrição ocorreu na gestão municipal passada e, na atual gestão, o órgão enfrentou resistência do gestor para dar continuidade à fiscalização. O Detran garante, no entanto, que hoje mantém uma fiscalização ativa na vila de Jeri.

Entre os moradores, a reclamação sobre o desrespeito à norma é recorrente. A estimativa da Secretaria de Turismo do Município de Jijoca é que, do dia 25 de dezembro de 2014 até ontem, cerca de sete mil veículos passaram pelo estacionamento

Prefeitura alega crise financeira
Diante das queixas quanto à precariedade na coleta de lixo e à administração do estacionamento, o prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Francisco Lindomar (PSD), alegou que a administração passa "por uma crise financeira" e que a vila, apesar de ser um distrito, "tem potencial de uma cidade". "Nós estamos com recurso para sustentar uma cidade, porém temos que sustentar duas", argumenta o gestor.

O prefeito explicou que, no fim do ano passado, houve um problema com um dos carros que recolhe o lixo de Jericoacoara e, por isso, o Município "improvisou" a solução na entrada da vila, em um acordo com a Cagece. Ele garante, porém, que até hoje o "lixão" será desfeito.

O secretário de turismo de Jijoca, José Bezerra, explicou que a coleta seletiva foi retomada no dia 12 de dezembro e deverá ser intensificada com o funcionamento pleno dos caminhões que recolhem o lixo. "Os empreendedores se comprometeram em separar os resíduos. Em contrapartida, a Prefeitura reinstaurou a usina de reciclagem", garantiu.

Perguntado sobre a adequação do município à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a construção de aterros sanitários e o fim dos lixões, Lindomar garantiu que há um projeto em discussão para a constituição de um consórcio entre Jijoca, Cruz, Acaraú e Itarema. Mas, não estimou prazos para a instalação do aterro.

Em relação ao estacionamento, Lindomar disse que o dinheiro arrecadado no local serve para manutenção do equipamento, que tem 14 funcionários. "É recurso próprio e ele serve, muitas vezes, para cumprir as brechas no município, inclusive garantir a folha de pagamento". 

Já a Secretaria de Turismo do Estado (Setur), informou, em nota, que "exerce papel de mobilização e incentivo às autoridades locais para minimizar esses problemas". Indagada sobre o desordenamento e a carência de serviços, a pasta diz que "reuniões periódicas são realizadas com a Prefeitura de Jijoca para garantir o ordenamento do trânsito e reforçar a importância da preservação do destino turístico". 

FIQUE POR DENTRO

Jeri é cercada por Parque Nacional
A Vila de Jeri é circundada pelo Parque Nacional de Jericoacoara, criado em fevereiro de 2002, com área de 8.416 hectares. A Unidade de Conservação (UC) é da categoria proteção integral e está localizada nos municípios de Cruz e Jijoca de Jericoacoara.

Em 2007, foram ajustados os limites do Parque, que tem como objetivo proteger amostras dos ecossistemas costeiros, servir como fonte de pesquisa científica e favorecer o turismo ecológico. O Parque é composto por paisagens como serrote, restinga, dunas, lagoas, manguezal e praia. Ele possui atrativos que incluem a prática de esportes náuticos, como windsurfe, kitesurfe, surfe e Stand Up Paddle.

Por ser uma área de proteção, é proibido aos visitantes o trânsito de veículos automotores sobre dunas fixas ou móveis, o descarte de lixo, a coleta de espécies da fauna silvestre e a produção de fogueiras no interior do Parque que é administrado pelo Instituto Chico Men

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