segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Reciclar coco está se tornando bom negócio

Nos últimos anos, o crescimento acentuado do consumo de água de coco e derivados vem trazendo um problema igualmente grandioso: o que fazer com os restos do fruto? Transferir essa responsabilidade para comerciantes ou consumidores já não coaduna com um negócio que se expande em todo o mundo e cujo principal trunfo é estar associado à saúde e à qualidade de vida.

Apenas no Ceará, estima-se que um milhão de cocos são colhidos todo dia. Desse total, metade é processada pelas indústrias de água, óleo e coco ralado. Do restante, metade é “exportada” para outros estados e cerca de 125 mil unidades são revendidas para consumo em lares, restaurantes e barracas de praias.

Somente o produtor Augusto Aragão, de Paraipaba, a 85 Km de Fortaleza, traz toda semana 10 mil cocos para revenda em Fortaleza. Mas ele é apenas um entre tantos fornecedores que atendem a demanda da capital cearense - quarta maior em população do Brasil um dos destinos turísticos mais procurados no país. Tanto consumo implica preocupação para a coleta de lixo.

Para cada meio litro de água de coco consumido, por exemplo, quase dois quilos de fibras (endocarpo e mesocarpo) têm como destino os lixões. Por isso têm prosperado iniciativas de reaproveitamento dos subprodutos do coco. Pelas qualidades térmicas e fungicidas, por exemplo, indústrias automotivas estão substituindo a espuma sintética nos assentos de carro por fibra da casca de coco. E o mesmo vale para a construção civil, arquitetura ou artesanato.

Contudo, as experiências têm se revelado mais promissoras no agronegócio - no qual a fibra ou o substrato do coco (a casca triturada até virar pó) tem aplicação crescente, seja como adubo; em "tubetes" para receber mudas (substituindo os sacos plásticos não-biodegradáveis); ou como alternativa para otimizar o consumo de água e reduzir a aplicação de inseticidas nas plantações. 

No Ceará, essas experiências ganharam impulso a partir de 2009, quando a Embrapa Agroindústria Tropical resolveu estabelecer parcerias com produtores de tomate, pimentão e morango para aferir cientificamente as vantagens de "cultivos protegidos em substrato de coco" - uma técnica bastante difundida em alguns países da Europa, em especial na Espanha, França e Holanda.

De acordo com o pesquisador Fábio Miranda, da Embrapa, só na Espanha já existem mais de 800 hectares de cultivos hortícolas e de plantas ornamentais que utilizam esse sistema. "E há uma tendência de crescimento do consumo do substrato de coco, em virtude de ser um produto renovável, biodegradável e com excelentes características físicas e químicas em relação a outro materiais".

Mas em relação aos europeus o Ceará apresenta vantagens consideráveis, por ser segundo produtor de coco do Brasil, com cerca de 47 mil hectares plantado - , além de sediar várias agroindústrias do ramo. “Temos quase 20 empresas que transformam os resíduos da agroindústria do coco (cascas), tornando o substrato um produto acessível e com preço bastante competitivo", explica.

"Estamos bem posicionados num negócio que vem se expandindo todo o Brasil, ao ritmo de 10% ao ano”, observa Laerte Gurgel, proprietário da Empresa Cohibra, com unidades nos municípios de Amontada (Ceará) e Petrolina (Pernambuco) e que trabalha para, até 2015, alcançar a produção de 1,5 milhão de mudas/sementes de coco anualmente. “No que refere ao substrato, a capacidade instalada não está conseguindo atender nem 30% da demanda atual no país”.

Embora também processe fibras de coco, segundo ele, no momento o esforço principal na Cohibra é produzir material genético de alta qualidade para acompanhar o crescimento do mercado de água no país - que vem despertando grande interesse de multinacionais, como a norte-americana Pepsico. “Para se ter ideia, uma única empresa está investindo R$ 500 milhões reais na produção e beneficiamento de coco no Brasil”.

Conforme Gurgel, a água do coco representa atualmente apenas cinco por cento do mercado de bebidas não-alcoólicas no país e as grandes empresas estão trabalhando para duplicar essa produção nos próximos cinco anos. Tal crescimento, contudo, traz de carona o problema de como descartar ou reutilizar a casca do coco – que ,no caso do fruto verde, pode pesar até quatro vezes mais do que a parte líquida (a água). 

Esse é o dilema do produtor José Mota, que cultiva oito hectares de coqueiras em Acaraú, distante 243 quilômetros de Fortaleza. “Antes eu queimava ou enterrava as cascas, mas percebi que demoravam muito para se decompor e terminavam atraindo moscas e doenças para meu coqueiral”, conta. “Atualmente estou com uma quantidade de cascas que enchem cinco ou seis caminhões e não sei direito o que fazer”.