Acaraú. "O Ceará não é terra sem Lei. Venda e consumo de aruanã, não". Com esses escritos num banner embaixo do braço, pescadores e familiares encampam a conscientização sobre a conservação, não só das tartarugas-verdes (Chelonia mydas), mas de todos os quelônios marinhos apontados na lista mundial de risco de extinção.
E para alertar que nem tudo o que cai na rede é peixe, o Projeto Tartaruga Marinha (Tamar) realiza atividades em escolas e comunidades dos municípios de Acaraú e Itarema, centro de um grande problema, não apenas em nível estadual, ou de Nordeste, mas de América do Sul.
A campanha ainda leva mostra de filmes educativos, palestras e oficinas. Na praia de Guajirú, em Acaraú, Jordânio Sales, filho de pescador, já participou, em sua escola, de debate sobre a importância da tartaruga. "Elas ajudam os peixes no mar", diz o menino de 8 anos.
Para Fernanda Mendes, bióloga marinha do Tamar, a conscientização dos mais novos, dentro das comunidades, reforça o trabalho de que as próximas gerações tenham uma visão mais sustentável sobre a importância dos quelônios.
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Conscientizados da importância de preservar esses simpáticos quelônios, os pescadores artesanais se dão ao trabalho de livrá-los das redes |
E, quando a conscientização, mais do que a própria lei, é quem bate à porta, os ambientalistas percebem ter conquistado novos aliados. Tanto que na praia de Patos, uma das principais áreas de abate e, portanto, massacre de tartarugas marinhas, a própria comunidade está atenta à prática ilegal. Sabem que é um assunto delicado e até têm medo dos comerciantes ilegais, mas é com esperança de estar ajudando que moradores ligam para os biólogos do Tamar e denunciam a chegada de novos animais para o abate.
A marisqueira Joana da Silva afirma que, toda semana, vê dois ou três cascos de tartarugas "bolando por aí". E são essas carapaças que denunciam os abatedouros clandestinos por entre morros e manguezais.
Sustentabilidade
Em alto-mar, milhares de trabalhadores vão em busca do seu sustento. Nos currais de pesca, localizados por GPS, os pescadores artesanais vão à cata de seus peixes presos na armadilha. "Mas olha aí, mais uma". É a interjeição do trabalhador Deuzimar da Silva, na praia de Almofala, quando observa o que caiu na rede. Mergulham numa dupla ação de salvamento: uma para catar o peixe, que garante o pão na mesa; outra para alforriar as tartarugas. Elas voltam para o mar. E o pescador para terra. O que pode não passar de uma ação solidária é, na verdade, a garantia para a manutenção do próprio ecossistema marinho do qual dependem Deuzimar, a família, a comunidade e as próprias tartarugas marinhas.