sábado, 15 de junho de 2013

Preservação das tartarugas

Um misto de ambição e ignorância dá continuidade à destruição dos recursos piscosos do litoral cearense, não bastassem os lamentáveis exemplos deixados pela devastação nos viveiros da lagosta. Os apelos foram dispensados, as advertências ignoradas e a repressão apenas ensaiada antes do desastre anunciado. 

A lagosta, atrativo produto da pauta de exportação do Ceará, com mercado comprador certo nas maiores praças tanto da Europa como dos Estados Unidos, foi definhando, ano a ano, até quase o esgotamento dos bancos de reprodução. Os equipamentos proibidos de captura, as operações ilícitas praticadas e a insuficiência da fiscalização contribuíram para a lenta agonia da pesca legal.

Surge mais um capítulo de irregularidades nas atividades do mar, desta feita, com o abate desenfreado de tartarugas, abastecendo um mercado mais rentável quando comparado com os peixes. As tartarugas marinhas estão servindo para novo tipo de atividades ilícitas na área da pesca oceânica, em torno da qual se alinham inúmeros órgãos públicos sem condições de coibi-las.

Originárias da Europa, América Central e África, as tartarugas aportam no litoral cearense e aqui permanecem, por dois anos, alimentando-se e acumulando gorduras para a viagem de volta. Isso, quando escapam da caçoeira, o mesmo instrumento de pesca responsável pela destruição da lagosta. Presos nas redes, os animais não conseguem subir, a cada meia hora, para respirar. Acabam morrendo afogados. 

São conhecidas sete espécies de réptil da ordem dos Quelônios. Dessas, cinco vagueiam pelo litoral entre Acaraú e Itarema, sendo a tartaruga-verde, também chamada de aruanã, a preferida para o abate. O comércio clandestino localiza-se nas praias do oeste e sofisticou-se, prevenindo-se contra a repressão. 

O Caderno Regional demonstrou, na edição de domingo, como opera a máfia da carne exótica, responsável pela exploração de lucrativo extermínio das tartarugas marinhas. Sua captura ilegal vem rendendo a comercialização, a cada semana, de pelo menos 200 quilos de carne, nas estimativas do Projeto Tamar. A pesca proibida promove o giro comercial de R$ 260 mil por ano entre Acaraú, Itarema e a Capital. 

Com raras exceções, o abate indiscriminado e o comércio da tartaruga são práticas ilegais no mundo inteiro. A carne é servida como prato exótico. No Ceará, essa atividade desafia a autoridade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a ação do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, mantenedor do Projeto Tartarugas Marinhas.

As tartarugas estão sendo destruídas com os mesmos processos responsáveis pelo desmantelamento das áreas de reprodução da lagosta. Tudo isso, numa região privilegiada do litoral oeste do Ceará, em frente aos municípios de Itarema e Acaraú, uma das principais áreas de alimentação das espécies marinhas da América Latina.

A cadeia comercial que lucra com essa agressão aos animais, com risco de extinção, é complexa, envolvendo pescadores, vendedores e atravessadores. A área litorânea, tão relevante para a natureza, mereceu a instalação de núcleo de atuação do Projeto Tamar no Distrito de Almofala. Nem assim, essa representação voltada para o estudo e proteção das espécies de Quelônios tem conseguido inibir sua pesca predatória.

O caso denunciado merece pronta reação dos órgãos encarregados da repressão a essa atividade ilícita.