sexta-feira, 14 de junho de 2013

ABATE DE TARTARUGAS: Denúncia sobre extinção de espécie repercute no Brasil

Entidades ambientais de todo o País lamentam as ações criminosas que estão ocorrendo no litoral cearense 

Somente uma, em cada mil tartarugas que nascem, chega à idade adulta. A espécie corre o risco de extinção, o Ceará lidera o extermínio no País Foto: Projeto Tamar 

Fortaleza Muitos leitores foram pegos de surpresa com a reportagem especial de ontem do Diário do Nordeste. A denúncia sobre o abate de tartarugas marinhas, espécie com risco de extinção, gerou indignação e cobranças aos órgãos fiscalizadores. A forte presença de tartarugas no mar do Ceará era de desconhecimento de muitos, bem como o comércio clandestino da carne para a culinária exótica. O assunto repercutiu nacionalmente, por meio de entidades ambientalistas. Nas redes sociais na Internet, os comentários foram de cobrança ao segmento da sociedade que come a carne exótica de tartaruga. 

"Além de esclarecedor, o Diário do Nordeste pode sensibilizar a opinião pública que está, via de regra, longe das ações do Tamar, mas muito próxima da ilegalidade praticada com as tartarugas e o meio ambiente", afirmou César Coelho, coordenador nacional do Projeto Tartaruga marinha, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMbio).

Tartaruga-verde
O abate afeta principalmente a espécie Chelônia mydas, mais conhecida por tartaruga-verde, ou aruanã, como chamam as comunidades dos povos do mar. Todos os anos, mais de 300 desses animais, entre jovens e adultos, são mortos no litoral entre os municípios de Itarema e Acaraú, no litoral leste do Estado. 

O problema é acompanhado de perto há duas décadas pelo Projeto Tartaruga Marinha (Tamar), do ICMbio. O repórter Melquíades Júnior viajou para os dois municípios onde o problema é maior. 

"Um dos desafios na apuração é o silêncio com que o comércio é tratado nas duas cidades. Publicamente, é unânime a informação de que o comércio é proibido. Mas aos poucos os pescadores, dentre outros moradores, admitem a comercialização da carne e até mesmo onde é possível fazer a compra", afirma Melquíades Júnior.

Devido a existência de uma sede do Projeto Tamar, em Acaraú, o trabalho de educação ambiental tem gerado bons resultados. Mas em todos os lugares do país onde o problema existe, está no Ceará a situação mais crítica, conforme o coordenador nacional do Projeto Tamar, César Coelho. "Isso se arraigou mais na cultura do cearense do que em outros Estados", afirmou. Para Eduardo Lima, coordenador do Tamar no Ceará, a conscientização terá melhores resultados nas novas gerações.

Desconfiança
Por isso, a equipe de reportagem portou-se como turistas. Qualquer desconfiança, os praticantes da venda clandestina recuam na atividade. As informações partiram do Tamar, que acompanha de perto a situação e tem dificuldade no flagrante do abate ilegal. E quando a prática é verificada, não podem fiscalizar, pois a ação compete ao Ibama.

"Quando fazemos incursões para verificar a denúncia, não encontramos mais nada, já aconteceu. Livra-se o flagrante", admite e lamenta Rolfran Ribeiro, chefe de fiscalização do Ibama no Estado do Ceará. O fiscal enalteceu a divulgação do problema pelo Caderno Regional, na edição de ontem, pois "quem financia esse esquema é o consumo".

"Só existe abate porque existem pessoas que compram", afirmou o leitor Magno Costa. E nesse tom foram as dezenas de comentários na fanpage do Diário do Nordeste no Facebook, sobre o abate de tartarugas marinhas. "Isso é reflexo do descaso do poder público, um país que não investe em educação é formador de criminosos, estúpidos e ignorantes", comentou a técnica em informática Hérica Barroso. 

A reportagem especial do Caderno Regional será discutida em escolas também do Litoral Leste do Estado, onde é frequente, o encalhe de tartarugas marinhas, peixe-boi e golfinhos. "Precisamos mostrar que é uma realidade próxima. O nosso Estado tem o fóssil mais antigo de tartaruga marinha. Muitos desses bichos vêm de vários países e continentes para descansar e se alimentar no nosso litoral. É uma riqueza do planeta que não estamos respeitando", afirma Joana Martins, professora de biologia.