Existe uma regra, universalmente aceita, pela qual os administradores do patrimônio alheio são levados a dar explicações periódicas sobre os resultados de suas ações. Devem mostrar o que fizeram, como e o que isso acrescentou, de preferência positivamente, ao conjunto do que lhe foi confiado.
No mundo dos negócios particulares isso é levado tão a sério que, dependendo dos números que quantificam lucros e prejuízos, pode ser o caminho mais rápido para alavancar ou enterrar carreiras. Enfim, pode levar ao paraíso ou ao pesadelo profissional. Por que no âmbito oficial teria de ser diferente? É aí onde nossa cultura, ou precisamente a falta dela, permite a continuidade de práticas notoriamente nocivas ao conjunto da sociedade por parte daqueles a quem confiamos cuidar do que é de todos.
Não temos o gosto de acompanhar nosso dinheiro & ou alguém ainda desconhece que somos os donos dos impostos que pagamos e apenas autorizamos alguém a gerenciá-los? -; nos comportamos com um certo acanhamento em questionar; cobramos pouco, agimos sem rigor, vigiamos pior ainda e não punimos como deveríamos, continuando a votar & usando mal essa grande arma - naqueles que traem nossa confiança.
Essas são, com segurança, algumas pistas que têm alimentado os lamentáveis episódios de desvios, malversações e degradação dos costumes no ambiente político de nosso país. Os órgãos de controle externo, como o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Tribunal de Contas da União (TCU), junto com outros organismos de defesa da sociedade, tais como Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU) e Ministério Público, têm procurado parar a ação desses predadores.
Mas eles não podem tudo. Precisam contar com a ajuda da sociedade, com os seus olhos e as suas conexões locais, afinal, se o dinheiro é de todos, o que se passa de bom e de ruim é da conta de todos.
O que se está pregando aqui é exatamente a participação coletiva nos atos de interesse comum, a interferência dos cidadãos, a mudança de atitude. A começar com as escolhas a cada eleição. Esse é um conjunto de ações que falta se materializar entre nós para criar as bases do verdadeiro exercício de controle social. Estamos convencidos de que o conhecimento e a informação completa e atualizada, via internet, são instrumentos poderosos que podem ajudar na visualização do que se passa, e, principalmente, para onde vai o dinheiro pago sob forma de tributos.
Daí podem vir a revolução que tanto esperamos e a formação de uma consciência madura, refletida e organizada com juízo claro sobre as diferentes situações que precisam e devem ser mudadas. É assim, imaginamos, que as nações crescem, consolidam o respeito de sua identidade nacional, redirecionam o presente e sinalizam o que querem ser no futuro. Não militamos na ala dos que simplesmente satanizam categorias profissionais ou grupos representativos, mas, definitivamente, queremos distância regulamentar dos que consideram
normal pagar pedágio à corrupção.
Ernesto Saboia - Presidente do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará
http://opovo.uol.com.br/opovo/opiniao/943623.html
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