Inadmissível, deplorável, revoltante. Vergonhoso, inexplicável, incompreensível. Símbolo maior do desinteresse, da barbárie, do analfabetismo, do desconhecimento da nossa História, da nossa memória e das nossas tradições, e, acima de tudo, da falta de Amor à nossa terra, o antigo, heroico e sofrido Acaraú.
Hoje, 14 de setembro de 2018; há exatos 150 anos, nascia no Acaraú o 1.o Príncipe dos Poetas Cearenses, o maior ícone cultural da Região do Baixo-Acaraú, o Padre Antônio Tomás. Nascido na então Vila do Acaraú, aos 14 de setembro de 1868, elevou o nome do Acaraú como nenhum outro dos seus filhos, antes ou depois dele: seus textos foram traduzidos para o Espanhol, o Francês, o Italiano, o Esperanto e o Inglês. Seus poemas são estudados até hoje nas melhores Universidades do Brasil, usados como temas de redação nos vestibulares da USP, da PUC-RJ e da UNICAMP. Seus sonetos antológicos, de execução lapidar, como "Contraste", "Eva", "O Palhaço", "A Morte do Jangadeiro", "Verso e Reverso", dentre tantos outros, são conhecidos, admirados e analisados pelos mais importantes Críticos Literários do país.
E, no entanto, no dia em que se completam 150 anos deste imenso Escritor, nenhum homenagem, sequer uma mísera lembrança, ocorre no seu torrão natal. Onde está a Secretaria da Cultura? Ela existe realmente ou não passa de um cabide de empregos? Como se explicar tão espesso silêncio em torno desta Data Magna, que deveria ser comemorada com palestras, simpósios, conferências, estudos e exposições? Qual a desculpá, minimamente verossímil, para tal escárnio, tal desrespeito para com a figura de maior envergadura histórica que o Acaraú já produziu ao longo dos seus 300 anos de existência? Verdadeiro tapa na cara do povo acarauense, o "nobre povo" ao qual se refere o Hino do Município, escrito pelo meu avô Nicodemos Araújo.
Infeliz do povo sem memória, sem História, sem o culto dos seus grandes expoentes, porque está fadado a ser um povo sem identidade, sem fibra, sem consciência do que é, do que foi e do que será. Já no ano passado, transcorreu o centenário de nascimento do Dr. Newton Teófilo Gonçalves, outro ilustríssimo acarauense. Nascido no Acaraú em 17 de setembro de 1917, foi um dos cinco fundadores da Faculdade de Medicina do Ceará, bem como fundador e Diretor do ICC - Instituto Cearense do Câncer. Poliglota renomado, foi o primeiro médico a realizar uma cirurgia cardíaca no Ceará, e também o pioneiro da cirurgia pediátrica no nosso Estado. Membro da Academia Cearense de Letras, foi por duas vezes Pró-Reitor da UFC, e ainda duas vezes Vice-Reitor da mesma Universidade. E enquanto em Fortaleza se comemorava, com pompa e circunstância, o Centenário deste Cidadão Benemérito, na UFC, no ICC, na Academia Cearense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, comemorações estas das quais tive a honra e o prazer de participar, como convidado, aqui, no seu próprio berço, a data passou em brancas nuvens.
"Repetitio est mater studiorum" ("A repetição é a mãe do estudo"), já afirmavam os latinos há mais de 2.000 anos. Por isso volto a bater na tecla e a dizer, com todas as letras, esta verdade de conhecimento geral: a atual gestão da pasta da Cultura, no Acaraú, é omissa, deficiente, vergonhosa, obscura, medíocre, desastrosa, irrelevante, claudicante, risível e irresponsável, porquanto falha nos seus objetivos precípuos, entre eles a missão sagrada de salvaguardar e proteger do esquecimento a memória e a História dos nossos antepassados, que fizeram a grandeza desta "terra bendita".
P.S. 1: Não vou nem comentar aqui o retumbante fracasso dos dois últimos carnavais do Acaraú, dentre outros histriônicos fracassos, pois ainda estão bem nítidas na mente de todos a zombaria e o escárnio de que tais eventos foram objeto em toda a Região.
P.S. 2: À guisa de conclusão, e para estimular a reflexão dos meus conterrâneos sobre a gravidade destes e outros desmandos, deixo uma trova de minha autoria, publicada no livro "Acaraú & Outros Países" (2009):
"A Ingratidão ao poetas
É antiga, velha escola;
Homero vagando cego
E Camões pedindo esmola."
ACARAÚ, 14 SETEMBRO DE 2018, DIA DA VERGONHA MUNICIPAL.
JOSÉ DIMAS DE CARVALHO MUNIZ
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