domingo, 30 de outubro de 2016

Igreja soterrada por duna durante quase meio século vira ponto turístico

Era uma vez um pequeno vilarejo do interior do Ceará. Em 1897, a força do vento levou a areia de uma duna móvel para dentro da igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Almofala, distrito de Itarema – a 248 quilômetros de Fortaleza. Em 1898, o templo estava totalmente soterrado, e assim ficou por 45 anos. Começava a fama de um dos templos religiosos com história mais curiosa do Brasil.

O vento entra novamente em ação, em 1941, e aos poucos retira a areia da igreja. Em 1943, o templo estava à vista novamente. A história é contada pela professora Luisa Sueli Andrade Ferreira, de 55 anos, e foi passada para ela pela avó, que relatou a reação dos moradores da região ao verem o hoje ícone do turismo da cidade desaparecer.

“Os populares achavam que era o apocalipse. O catolicismo sempre foi muito forte em Almofala, as pessoas não tinham conhecimento dos fenômenos naturais. A minha avó contou que todos ficaram desesperados porque casas também foram soterradas. Quando a areia saiu, eles acreditavam que era um milagre“, relata. 

Mais um fato inusitado lembrado por Sueli, que se dedica há 11 anos à igreja, foi o conflito entre os almofalenses e a comissão liderada pelo padre Antônio Thomas. “As imagens da igreja foram levadas por eles, e os índios Tremembés resistiram com força. Teve até sangue, mas a tentativa de impedir que os santos fossem levados não deu certo. Padre Antônio Thomas conseguiu levá-los”. 

Apenas quatro imagens voltaram para o altar do santuário: a padroeira Nossa Senhora da Conceição, São Miguel, São Benedito e São José de Botas. Restauração A igreja de Nossa Senhora da Conceição começou a ser erguida em 1702, ainda como uma pequena capela de taipa. “Em 1708, a construção de concreto começou e foi concluída quatro anos depois. Foi assim que nasceu a nossa igreja, há 301 anos”, relembra Sueli.

Tombada como patrimônio histórico, na década de 1980, a igreja passou por uma restauração após o soterramento e recebe cerca de 300 turistas por ano. Tudo é catalogado pela professora em um caderno. “Eu sou muito organizada e tive a ideia de deixar um livro na porta da igreja para os visitantes assinarem”.

Os filhos de Sueli a chamam de beata por tamanha dedicação, mas ela não se incomoda com a brincadeira. “Eu tenho tremenda adoração por essa igreja. Eu sei que não devemos ter, mas ela é nossa história e temos que preservá-la ao máximo. Os almofalenses têm que ter respeito porque ela é um marco histórico”, derrete-se.

O jornalista Fred Miranda, incentivado pelo cunhado, um estudioso de monumentos históricos, foi ver de perto a famosa igreja soterrada, e ficou impressionado com o patrimônio. “Realmente a igreja conserva a sua originalidade e a estrutura colonial. A cidade é bastante agradável, a região é belíssima, os preços são agradáveis e as praias são lindas”.

O distrito, de 14 mil habitantes, luta pela emancipação e por algumas melhorias na igreja. “A gente já conquistou autonomia, mas queria mais segurança no entorno da igreja e fazer com que ela e a praça fossem um único espaço. Acontecem muitos acidentes nessa área”, aponta.

Tribuna do Ceará

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