Em cartaz no Sobrado Dr. José Lourenço com a mostra Praias do Ceará e Outras Vistas, Murilo Teixeira, ex-integrante da importante Sociedade Cearense de Artes Plásticas, contou de pinceladas, viagens e de hábitos amanhados em 82 anos de vida
Seu Murilo Teixeira não costuma fazer caso. Aos 82 anos, completos no final de setembro, perseverou em práticas suas mesmo com as dificuldades a lhe bater à porta: manteve-se firme no apreço a paisagens bucólicas e praieiras e continua atendendo clientes na bodega que mantém dentro de casa. Das pinceladas de barcos e sol, Seu Murilo tem muito gosto, como contou na manhã do último sábado, quando muitas famílias se preparavam para as festas natalinas.
“Durmo bem, almoço bem. Já me disseram que eu não entregasse os 82, pareço muito menos!”, sorriu Seu Murilo, quando contou sobre o dia da abertura da exposição Praias do Ceará e Outras Vistas, em cartaz no Sobrado Dr. José Lourenço. A mostra é mais uma de suas individuais, de tantas perdidas na memória. “Uma das primeiras foi quando Parsifal Barroso era governador. A mulher dele, Olga, veio aqui e pegou 30 quadros. Vendeu tudo”. O “aqui” é a casa em que mora com a mulher e onde criou o casal de filhos (a menina faleceu há cerca de 10 anos).
“Essa casa era da Maria Luisa (Fontenele), que foi prefeita de Fortaleza, você me acredita?”. A prestação de 92 cruzeiros não foi esquecida, mas a estrutura mudou pouco. No quintal, um pé de limão oferece agrados para as visitas, e vez por outra ele serve de cenário. “Às vezes, aparecem umas meninas para bater fotos de biquíni. Chegam aqui e dizem: ‘Seu Murilo, eu comprei um biquíni novo...’”. Isso porque a bodega oferece o serviço de retrato 3x4 e uma impressora que prescinde de computador.
A pintura começou quando Seu Murilo foi trabalhar numa empresa na qual a maioria dos colegas eram integrantes da Sociedade Cearense de Artes Plásticos, a Scap. Ele logo depois integrava o grupo. “A Scap era uma coisa de amizade”. Eles viajavam juntos, muitas vezes, para pintar. O estímulo era como uma flecha de fogo. “Hoje eu ainda viajo. Até ano passado ia de carro, sozinho. Mas é muito diferente”. O sol ajudava o desenho, já as cores eram resguardadas na retina, apenas. “De noite que eu pinto, de noite que eu coloco as cores”.
Pacatuba, Itarema, Barra do Ceará, Itapebuçu, Quixadá foram algumas das cidades da rota da pintura. Em Itapebuçu a estadia era mais demorada, coisa de um mês, por conta de uns amigos. Quando as cidades e as gentes começaram a mudar, foi até sugerida uma mudança de estratégia: “O Aldemir Martins, há muitos anos, falou que eu adotasse o sistema da Europa, que era tirar uma foto da paisagem e só depois pintar”. Não funcionou, que hábito é coisa entranhada na pele.
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