
A Luta contra o Câncer
O ex-vice-presidente lutava contra o câncer havia 13 anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou. Após passar 33 dias internado – inclusive no Natal e no Ano Novo –, o ex-vice-presidente havia deixado o hospital no último dia 25 de janeiro para ser um dos homenageados no aniversário de São Paulo. A internação tinha sido motivada pelas sucessivas hemorragias e pela necessidade de tratamento do câncer no abdômen. No dia 26 de janeiro, recebeu autorização da equipe médica do hospital para permanecer em casa. No entanto, acabou voltando ao hospital dias depois.
Durante o período de internação, Alencar manifestou desejo de ir a Brasília para a posse da presidente Dilma Rousseff. Momentos antes da cerimônia, cogitou deixar o hospital para ir até a capital federal a fim de descer a rampa do Palácio do Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva. Ele desistiu após insistência da mulher, Mariza. Decidiu ficar, vestiu um terno e chamou os jornalistas para uma entrevista coletiva, na qual explicou por que não iria à posse e disse que sua missão estava “cumprida”.
Na conversa com os jornalistas, voltou a dizer que não tinha medo da morte. “Se Deus quiser que eu morra, ele não precisa de câncer para isso. Se ele não quiser que eu vá agora, não há câncer que me leve”, disse. No mesmo dia, ele recebeu a vista de Lula, que deixou Brasília logo após a posse de Dilma.
Internações
Os últimos meses de Alencar foram de internações sucessivas. Em 9 de fevereiro, ele foi hospitalizado devido a uma perfuração no intestino. O ex-vice-presidente já havia permanecido internado de 23 de novembro a 17 de dezembro para tratar uma obstrução intestinal decorrente dos tumores no abdômen.
No dia 27 de novembro, foi submetido a uma cirurgia para retirada de parte do tumor e de parte do intestino delgado. Alencar passou alguns dias na UTI Cardiológica e começou a fazer sessões de hemodiálise depois que os médicos detectaram piora da função renal. Em setembro de 2010, foi internado em razão de um edema agudo de pulmão.
No dia 25 de outubro, voltou ao Sírio-Libanês ao apresentar um quadro de suboclusão intestinal. Dias após a internação, ainda no hospital, sofreu um infarto no fim da tarde do dia 11 de novembro. Foi submetido a cateterismo, “que não mostrou obstruções arteriais importantes”.
Tratamento no exterior
O tratamento experimental nos EUA em 2009 não foi a primeira tentativa de Alencar de obter a cura fora do país. Ele já havia viajado para os Estados Unidos em 2006 para se tratar com especialistas. No ano seguinte, no entanto, os exames mostraram que o câncer havia se espalhado para o peritônio, uma membrana que reveste as paredes do abdômen. Iniciava-se, então, a série de cirurgias na região.
Em 2008, foram três internações. Em janeiro e em julho, exames mostraram uma reincidência de tumores abdominais. Em agosto, Alencar começou tratamento com um novo medicamento, a Trabectedina. Com a saúde fragilizada, o ex-vice-presidente também foi internado por outros problemas. Em novembro de 2008, durante uma visita a Resende (RJ), teve fortes dores abdominais. O diagnóstico foi enterite (inflamação intestinal). Segundo os médicos, não havia relação com o câncer. Vinte dias depois, ele foi internado novamente, com quadro de insuficiência renal. Recebeu alta dois dias depois. Sempre bem-humorado nas sucessivas vezes em que deixou o hospital Sírio-Libanês, chegava a brincar com seu próprio quadro clínico. "Estou melhor do que das outras vezes", repetia.
Após a maior das cirurgias, em 2009, Alencar saiu do hospital dizendo que não temia a morte. “Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho", afirmou. “Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”
Problemas de saúde ‘paralelos’
O ano de 2010 começaria com uma boa notícia para o então vice-presidente. O tumor que tratava vinha apresentando redução, segundo o hospital. Alguns meses mais tarde, no entanto, ele começou a ter problemas de saúde “paralelos” ao câncer. No início de maio, numa das idas ao hospital para a quimioterapia, apresentou pressão alta. Exames apontaram isquemia cardíaca e uma “obstrução grave” numa das artérias.
Alencar então passou por um cateterismo e uma angioplastia e recebeu um “stent”, um mecanismo que “alarga” a artéria. No total, ficou nove dias internado. No final do mesmo mês, queixando-se de fadiga, foi internado novamente. Após exames, o hospital constatou que ele estava anêmico e tinha um “quadro congestivo pulmonar”, consequência da quimioterapia. O tratamento, no entanto, continuava a dar resultados positivos, com a redução dos tumores. No final de agosto, contraiu uma infecção, que foi tratada com antibióticos.
Ele seria internado novamente poucos dias depois, no início de setembro, com o diagnóstico de edema agudo de pulmão. Foram mais seis dias no hospital. Luta contra o câncer fez de Alencar um exemplo para brasileiros O ex-vice-presidente José Alencar, que morreu nesta terça-feira (29), lutava contra o câncer há mais de uma década. Mesmo debilitado e enfrentando diversos problemas de saúde, a persistência e a esperança com que sempre lidou com a doença e o tratamento quimioterápico fizeram de sua trajetória um exemplo para muitos brasileiros. Deixe sua mensagem para José Alencar Desde 1997, Alencar passou por uma série de cirurgias e procedimentos médicos para combater tumores no rim, na próstata e no abdome, além de se submeter, sem sucesso, a um tratamento experimental fora do país. Seu estado de saúde, porém, foi se debilitando com o passar do tempo.
Além de problemas relacionados diretamente à doença, o ex-vice-presidente enfrentou várias outras complicações. Em setembro, teve um edema pulmonar. Dois meses depois, sofreu um infarto. Em dezembro, Alencar teve de voltar ao hospital devido a uma grave hemorragia no intestino, causada por um tumor. Só pôde sair no dia 25 de janeiro, quando recebeu o aval da equipe médica para ir à Prefeitura de São Paulo, onde foi homenageado. Dias depois, em 9 de fevereiro, Alencar teve que voltar ao hospital por causa de uma crise de peritonite (inflamação no peritônio, a membrana que envolve a cavidade abdominal).
Na ocasião, Alencar chegou a recusar o tratamento contra o câncer. O ex-vice ficou internado até o dia 15 de março, quando teve autorização para voltar para casa. Após um curto período em casa, ele voltou a ser internado no Sírio-Libanês, na tarde do dia 28 do mesmo mês.
Presidência em exercício
Durante os oito anos em que esteve no governo, o então vice-presidente assumiu o comando do país em ao menos 130 ocasiões, durante viagens internacionais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com dados da assessoria do Planalto, Alencar presidiu o país por mais de 400 dias ao longo dos dois mandatos de Lula. Como presidente em exercício, Alencar teve de tomar algumas decisões importantes – e às vezes polêmicas – à frente do governo. Logo no início do primeiro mandato de Lula, foi ele quem assinou uma MP (medida provisória) autorizando o plantio da soja transgênica no Brasil, em setembro de 2003.
Foi ele também quem decretou luto oficial de três dias no Brasil, em junho de 2009, após a tragédia do voo 447 da Air France, que caiu no oceano Atlântico quando fazia o trajeto Rio de Janeiro-Paris, matando 228 pessoas (sendo 58 brasileiros). Casado com Mariza Campos Gomes da Silva, Alencar deixa três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.
José Alencar: de criança pobre a megaempresário
O ex-vice-presidente José Alencar, morreu nesta terça-feira (29), depois de resistir por mais de dez anos ao avanço de um câncer no intestino. Esse jeito persistente de Alencar lutar pela vida resume bem os 79 anos de trajetória: nascido pobre, começou a trabalhar aos sete anos, saiu de casa aos 15 e chegou à vice-presidência da República como um dos maiores empresários do Brasil.
José Alencar Gomes da Silva nasceu em um povoado perto de Muriaé (a 300 km de Belo Horizonte) no dia 17 de outubro de 1931: o décimo primeiro dos 14 filhos de Dolores Peres Gomes da Silva e Antônio Gomes da Silva. Independente desde criança, Alencar começou a trabalhar aos sete anos como vendedor em uma loja do pai. Aos 15, já estava de malas prontas para deixar a família e trabalhar como balconista em uma loja de tecidos. Nas palavras de Alencar, “o salário não pagava nem o aluguel de um quarto”. Aos 17 anos, Alencar refez as malas para trabalhar novamente como vendedor em Caratinga, a 305 km de Belo Horizonte. No ano seguinte, ele já era um homem financeiramente livre. Foi em 1949 que seu irmão mais velho, Geraldo Gomes da Silva, lhe emprestou dinheiro para abrir sua própria loja em Caratinga. No dia 31 de março de 1950, "A Queimadeira" era inaugurada.
O comércio vendia de tudo um pouco: guarda-chuva, sapatos, tecidos. Sem muito de onde tirar recursos para a loja crescer, Alencar comia marmita e dormia na própria loja, de acordo com seus próprios relatos. Em 1953 ele vendeu a loja para abrir outra que comercializava cereais por atacado. Seis anos depois, e Alencar daria o passo decisivo para seu sucesso empresarial: com a morte do irmão Geraldo, em 1959, ele assumiu a empresa de tecidos União dos Cometas. Em 1963, fundou a Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas e deu o nome de Wembley Roupas S.A. Quatro anos mais tarde, foi a vez de se juntar ao deputado Luiz de Paula Ferreira para criar a Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) na cidade de Montes Claros, a 425 km de Belo Horizonte.
Em 1975, ele inaugurava a mais moderna fábrica de fiação do Brasil. Hoje, a Coteminas se espalha por 11 cidades em Minas Gerais, Paraíba, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Argentina. A companhia, dona de quatro marcas, exporta de camisetas a roupões de banho para Estados Unidos, Europa e América do Sul. Para quem ainda tem dúvidas do tamanho da Coteminas, basta lembrar que a empresa de Alencar desembolsou um terço dos R$ 137 milhões necessários para construir a hidrelétrica de Porto Estrela, no leste de Minas Gerais, que tem capacidade para levar energia a uma cidade de aproximadamente 300 mil pessoas.
Tudo para reduzir custos. Com tanto sucesso nos negócios, Alencar acabou presidente da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o que lhe deu projeção nacional para virar político no começo da década de 1990.
José Alencar Gomes da Silva
* 17-10-1931
+ 29-03-2011
Será que ele reconheceu a pobre da filha que lutava para ser registrada, já que ele não quis submeter-se ao exame de DNA? Sobreviveu por algum tempo porque nunca precisou do SUS!
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