A Câmara dos Deputados aprovou, na noite de ontem, a abertura do processo de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). O 342º voto em favor do
impedimento, atingindo a barreira de 2/3 da Casa necessários para a aprovação, foi
dado pelo deputado Bruno Araújo (PSDBPE). Os debates haviam começado às 8:55
da última sexta-feira (15).
A presidente, atingida pela queda de popularidade em razão da crise econômica e das
investigações da Operação Lava Jato, ainda não será afastada do cargo, no entanto, para que isso ocorra, a decisão dos deputados tem de ser referendada pelo Senado
por maioria simples, cuja votação deve ocorrer no início do mês de maio.
Com isso, Dilma se une a Fernando Collor (PTC) no rol de mandatários que tiveram o
impeachment aberto pela Casa após a redemocratização do Brasil. O senador
alagoano acabou renunciando antes do julgamento que lhe cassou direitos políticos.
Em 1999, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) escapou da abertura de processo após
vencer recurso em plenário contra o arquivamento de pedido do PT.
Dilma e seu mentor político, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, passaram os
últimos dias em um verdadeiro cabo de guerra para tentar esvaziar a vantagem de
votos pró-impeachment. O Palácio do Planalto vinha perdendo força desde a
saída do PMDB, do vice-presidente Michel Temer, de sua base no mês passado, em
um movimento tumultuado, já que vários ministros do partido resistiram a deixar os
cargos no governo.
Na semana passada, o processo ganhou ímpeto com a aprovação em comissão
especial do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que pedia o impeachment
devido às chamadas "pedaladas fiscais" e à abertura de créditos extraordinários sem
autorização do Legislativo.
Os críticos do impeachment consideram que os motivos não configuram crime de
responsabilidade, figura estabelecida em lei para justificar o processo. As pedaladas
foram manobras fiscais que utilizaram recursos de bancos de forma indevida o custo
para quitálas, pago no fim de 2015, foi de R$ 72,4 bilhões.
Negociações
Na sequência, os partidos médios com que Lula e o governo contavam para ocupar o
espaço do PMDB na administração em troca dos votos em favor de Dilma também
abandonaram o barco. O PP foi o primeiro, seguido pelo PSD e pela maioria do PR.
A partir de sexta, 15, Lula comandou uma última ofensiva, e obteve alguns sucessos
em negociar a abstenção de deputados. No sábado, 16, o "Diário Oficial" rodou em
edição extra com nomeações para cargos de segundo escalão.
Do lado de Temer,
houve intensa movimentação. Apesar de registrar defecções, o comando
peemedebista contabilizava até 370 votos em favor do impeachment no sábado,
número semelhante ao apurado pelo mapa do PSDB e de outras siglas de oposição.
A movimentação foi frenética, com boatos de todo tipo na praça: uma feijoada na casa
do vicepresidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), reunindo ministros e
governistas, chegou a comemorar o que seria a virada para o governo.
Só que a
romaria rumo ao Palácio do Jaburu, residência do vice, se tornou intensa, e a suposta
onda pró-Dilma quebrou na praia. Não funcionou para o PT. Na Câmara, o Planalto perdeu votos que tinha como certos
contra o impedimento de Dilma, inclusive do PDT, que fechou questão para ficar do
lado do governo. Agora, o Planalto buscará votos no Senado, além do apoio do
presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que vinha apoiando Dilma à
distância.
Diário do Nordeste
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