quarta-feira, 13 de abril de 2016

Lideranças partidárias não conseguem enquadrar filiados

O senador Eunício Oliveira diz que não conversou com o deputado Aníbal Gomes,
que deve ter voto contrário ao dele sobre o impeachment
Na semana que deve ser decisiva em Brasília, em que a Câmara Federal pode definir a partir de sexta-feira se aprova ou não o afastamento da presidente Dilma Rousseff, para que ela responda ao impeachment, líderes partidários do Ceará ainda encontram dificuldades para controlar os votos de seus liderados. Está em aberto também a presença dessas lideranças nas discussões que ocorrem em Brasília.

O PMDB do vice-presidente Michel Temer está com opinião dividida no Ceará. Enquanto o deputado federal Vitor Valim e o recém-filiado Moses Rodrigues já declararam voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff, Aníbal Gomes não declarou voto, mas pode ser contra o afastamento da petista. Aníbal é alinhado à ala peemedebista do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, que tem aberto diálogo com o governo federal e gostaria que o processo contra a presidente não chegasse ao Senado da República.

O senador Eunício Oliveira, dirigente regional do PMDB, diz que há muito tempo não conversa com Aníbal Gomes e minimiza o desalinhamento do correligionário ao afirmar que a sigla não deve fechar questão sobre a votação sobre o impeachment, porque “é uma questão de consciência”. “No PMDB não é hábito fechar questão sobre algo que é de consciência de cada parlamentar, nem pró nem contra”, declarou o peemedebista.

O mal-estar entre Eunício Oliveira e Aníbal Gomes foi ampliado desde a última campanha eleitoral, quando Aníbal foi acusado de trair o PMDB ao pedir votos em favor de Camilo Santana, opositor de Eunício nas eleições de 2014 para governador. “Não tenho falado com Aníbal, não. Nesses últimos dias não falei com ele. Vitor Valim tem uma posição clara a favor do impeachment e o Moses também vota a favor”, declarou.

Consenso

Eunício afirma que tem conversado com parlamentares de outros partidos, a exemplo do deputado federal Cabo Sabino, do PR, que defende o afastamento da presidente da República. “Ele me disse que vai votar a favor do impeachment. Estava indeciso. E o Genecias (deputado federal do Solidariedade) é favorável ao impeachment também”, disse.

No entanto, a opinião de Cabo Sabino não é consenso na bancada do PR Ceará, que abriga ainda a deputada Gorete Pereira, que se coloca como oficialmente como indecisa frente ao impeachment, mas já teria declarado voto a favor de Dilma no encontro com Lula, neste mês, em Fortaleza. Ela participou da conversa reservada entre Lula e os deputados federais que estavam no almoço oferecido pelo governador Camilo Santana ao ex-presidente. Dessa forma, o voto dela é contabilizado por governistas entre os contrários ao impeachment de Dilma.

O presidente estadual do PR e ex-governador do Ceará, Lúcio Alcântara, diz que tem conversado com os dois deputados federais cearenses, justificando que Gorete Pereira baseia o voto dela nas conversas que teve com prefeitos aliados para sondar como se posicionam as lideranças dos municípios cearenses.

“Gorete está fazendo uma avaliação, porque tem que conversar com prefeitos, lideranças que a apoiam, ela não tomou decisão. Converso quase todos os dias com eles (os dois deputados federais)”, afirma o dirigente, apesar da sinalização da correligionária favorável ao governo federal. O dirigente alega que não vai a Brasília nesta semana acompanhar a votação do impeachment. Sem mandato e sem direito a voto, alega Lúcio, “não iria acrescentar nada”.

Na avaliação do ex-governador cearense, a melhor saída para a crise política nacional seria a convocação de eleições gerais para os cargos de presidente. No entanto, sem consenso para que a proposta tenha continuidade, a opção de aprovar o impeachment de Dilma Rousseff seria o único caminho viável. Entretanto, ele pondera não ser possível pressionar todos os parlamentares do partido a seguir a mesma tese, uma vez que a própria legenda decidiu não fechar questão sobre o tema. 

“Tem que respeitar a opinião deles, eu entendo que a melhor eleição seria a eleição geral para presidente e vice. Como se mostrou politicamente inviável, o remédio é o impeachment. Não há como fugir da situação nesse momento em que o país está sofrendo”, opina Alcântara. 

Agenda em Brasília

O governador do Ceará, Camilo Santana, filiado ao PT de Dilma Rousseff, ainda não sabe se estará em Brasília para assistir à votação sobre o impeachment na Câmara Federal. A assessoria de imprensa do governador diz que ainda não há previsão de agenda nesse sentido. A presença dos governadores do PT, em Brasília, ao lado da presidente Dilma Rousseff já está sendo organizada pelas lideranças petistas.

O ex-governador Cid Gomes (PDT), com postura abertamente contrária ao impeachment, não foi localizado pelo Diário do Nordeste até a noite de ontem. Cid foi fiel a Dilma nos dois mandatos, sendo indicado ministro da Educação no ano passado. Hoje, o irmão mais velho de Cid, o ex-ministro Ciro Gomes, é pré-candidato declarado do PDT à Presidência da República.

Aliados do ex-governador estão aguardando um encontro para a definição da estratégia que utilizaram até o fim de semana, não estando descartada a presença dele em Brasília, para acompanhar a votação no comando nacional do PDT.

Hoje três deputados federais do Ceará em exercício estão como suplentes: Paulo Henrique Lustosa (PP) e os pedetistas Vicente Arruda e Ariosto Holanda. Eles são pressionados a votar contra o afastamento da presidente Dilma sob pena de os titulares das vagas, hoje licenciados, voltarem para votar favoravelmente ao governo. Os licenciados são o ministro das Comunicações, André Figueiredo (PDT), e secretários do governo estadual Adail Carneiro (PP) e Antônio Balhmann (PP). 

Ariosto Holanda, publicamente já se manifestou a contra o impeachment, segundo nota distribuída à imprensa, justificando as razões para o seu posicionamento com o compromisso do governo de apoio aos projetos educacionais que ele defende.

Diário do Nordeste

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