terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Acarauense fixa poema de Nicodemos Araújo na casa onde o poeta morou, e lamenta demolição

Acarauense aficionado pela história e pela literatura de Nicodemos Araújo, lamenta em sua rede social que a casa do maior historiador dessa região do Ceará, documentador de episódios de extrema importância para a história do Ceará e do Brasil, produtor de materiais que são hoje o guia de estudantes e professores que estudam os fenômenos sociais nessa parte do estado, está sendo demolida e apagada da memória do povo do Ceará.

"Nicodemos não era somente um Acarauense, era um cidadão do mundo. Já na sua juventude documentava os processos de desenvolvimento dessa cidade e de todas as outras que nasceram no vale do Acaraú.", disse o jovem Jonatas Silveira, que fixou um cartaz com o poema Velha Casa de de autoria do poeta.

O poeta é por exemplo, autor do hino do município de Acaraú e de tantas outras cidades. Compôs também hinos de festas religiosas, pesquisou, organizou e publicou a história do povo do Vale do Norte. Após 19 anos de sua morte, um dos maiores acarauenses de todos os tempos, tem sua casa sendo demolida e apagada de nosso dia a dia. A casinha do poeta e historiador acarauense, que documentou e traduziu a mais de 80 anos atrás a história dos nossos avós e bisavós, está tendo seus últimos dias na paisagem histórica de Acaraú, lamentou o jovem.

"O futuro saberá quem foi Nicodemos, o futuro apagará completamente o resquício de existência de todos que se manteram impassíveis diante dessa irresponsabilidade diante da cultura Acarauense. O futuro apagará qualquer lembrança desses que se importam mais com o valor do imóvel ou de sua candidatura política. O futuro apagará a memória do povo que não soube reclamar ou cobrar a preservação do patrimônio material e imaterial da cidade. Mas o futuro não apagará os versos e reversos de Nicodemos Araújo. O futuro não apagará seus livros e sua memória. O futuro não apagará os versos sobre os carnaubais, sobre o vôo das Garças, sobre os manguezais altaneiros, não apagará os versos sobre seu povo que no seu tempo valorizava seus símbolos históricos e culturais, não apagará seus versos sobre o amanhecer em Acaraú ou sobre o entardecer, que no seu tempo eram a inspiração diária que tinha na porta de sua casinha que hoje é destruída. Os poetas não morrem. Escutem o que estou dizendo. Daqui a 80 anos os versos de Nicodemos continuaram pairando sua amada cidade, por entre as vielas, nos porões, nas esquinas, nas ruas e nas sombras. Mas aqueles que se esqueceram da memória de seu povo e de seus antepassados não restará nem o nome num jazigo esquecido de um velho cemitério. Nicodemos vive.", finalizou o jovem.


VELHA CASA

Velha casa que foste em minha vida
Ninho feliz onde vivi cantando
Sonhos bons duma quadra inesquecida,
Vêr-te não posso, sem me ver chorando.

Sinto o vento açoitar-te, profanando
O teu silêncio, abandonada ermida.
E ouvindo as velhas portas solfejando,
Julgo escutar minhalma dolorida...

Minha alma deplorando o seu tormento
Como um fantasma que te visitasse 
No remoinho tétrico do vento.

E eu sinto, então, que minha dôr infinda,
Como se a chaga mais se aprofundasse,
Mais me compunge e martiriza ainda.

Nicodemos Araújo
Poeta, escritor e historiador Acarauense.







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