A nomeação da empresária Andrea Vale Spazzafumo para o comando da Autarquia de Desenvolvimento do Turismo, Mobilidade e Qualidade de Vida de Jericoacoara (ADEJERI) provocou reações críticas e colocou novamente a gestão da vila sob os holofotes.
A decisão partiu do prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Leandro Cézar (PP), e, segundo reportagem publicada pelo Diário do Nordeste, entregou a principal estrutura pública de gestão turística da vila a uma figura central do setor hoteleiro local com histórico de envolvimento em ações judiciais por ocupação irregular de área pública e danos ambientais.
A ADEJERI é responsável por gerir o Fundo de Desenvolvimento Turístico de Jericoacoara, abastecido pela taxa paga por todos os visitantes da vila. Após reformas estruturais, a autarquia ganhou mais autonomia e passou a ter acesso direto a 30% da arrecadação da taxa, além de protagonismo na fiscalização e planejamento urbano da região.
A nomeação de Andrea coincidiu com a criação de mecanismos legais para regularizar construções fora dos parâmetros legais — o que levantou suspeitas de favorecimento.
Empresária refuta acusações
Andrea Vale Spazzafumo é ligada a empreendimentos de alto padrão como o Hotel Essenza, onde diárias superam os R$ 2 mil. Conforme o Diário do Nordeste, ela aparece como administradora de empresas que foram alvos de ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF), com denúncias de invasão da faixa de praia e práticas ambientais irregulares. Os processos foram encerrados após acordos que incluíram pagamento de multas e desocupação das áreas.
Em entrevista ao jornal, Andrea negou envolvimento direto na gestão dos empreendimentos e disse não haver conflito de interesse entre sua atuação na iniciativa privada e o cargo público que agora ocupa. Segundo ela, os acordos judiciais não configuram admissão de culpa, e sua atuação na ADEJERI será pautada pela legalidade e transparência.
Pressões e reações
A nomeação foi recebida com apreensão por lideranças comunitárias e ambientais. O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) confirmou o recebimento de denúncias e, ainda segundo o Diário do Nordeste, há críticas que classificam a escolha como “irônica”, considerando o papel atribuído a Andrea nas irregularidades investigadas anos atrás.
A polêmica se soma a um momento de tensão no destino turístico. Em janeiro, a concessão do Parque Nacional de Jericoacoara à iniciativa privada gerou forte reação, com previsão de nova taxa de acesso suspensa temporariamente por decisão da Justiça Federal, que pediu um plano detalhado de custos e critérios de isenção.
Em nota, o prefeito Leandro Cézar defendeu a nomeação. Destacou a longa atuação de Andrea na vila desde os anos 1990, seu vínculo com a comunidade local e sua aptidão legal para ocupar o cargo. Afirmou ainda que a gestão da autarquia será aberta ao diálogo, com foco na preservação ambiental e no desenvolvimento social sustentável.
O episódio reforça o embate recorrente em Jericoacoara: a disputa entre os interesses privados do setor turístico e a responsabilidade pública sobre a preservação de um dos destinos mais emblemáticos e cobiçados do Brasil.
Com informações do Diário do Nordeste
