quinta-feira, 13 de abril de 2017

Filha de Acaraú é tema de reportagem especial do jornal O Povo pelos 291 anos de Fortaleza

O desenho avermelhado de um pitu gigante na parede do bar de Lúcia Marques, 54, apresenta as especialidades da beira do mangue no rio Ceará: “Temos tainha, piaba, saúna, cará, batatinha, bolinha de peixe...”. A construção comprida, hoje de alvenaria, também esquadrinha um espaço onde dorme, no manguezal, a família de Lúcia.

O Recanto do Mangue, na Comunidade do Guaê, é uma das paradas do barco que nos leva pela extensão da barra do rio Ceará até o território indígena dos Tapebas, em Caucaia. “Sou tremembé”, me diz no início da conversa a filha do município de Acaraú.

Lúcia Marques, que não tem no nome social a etnia, conta que a ida para o mangue se deu há 17 anos e não foi fácil. Quando resolveu morar na beira do rio Ceará, com seis filhas e dois meninos, se valeu da madeira do mangue para construir a primeira moradia na lama. “Lutei com a maré”.

E foi. Rio e mar, num movimento natural no manguezal, subiram e derrubaram a primeira barraca de taipa da corajosa Lúcia. “No começo foi um tiro no pé. Vendi minha casa lá em cima (Iparana) porque queria construir um porto de apoio para pescadores e quem aparecesse de Fortaleza pelo rio”, conta. 

O pequeno porto está lá e é tocado por Lúcia e seu companheiro, Leonardo Carmo, 37. Na quinta-feira que fomos, mais de uma dezena de canoas balançavam amarradas em estacas na maré vazante. “Eu não quero tirar mais nem um pé de pau do mangue. A impressão é que o mar está crescendo pra Cidade”, observa ela.

Na mesma parede onde está desenhado o pitu gigante e algumas delícias do mangue, também está escrito em letras grandes: “Área de proteção ambiental e sustentabilidade”. Lúcia mandou pintar, pelo menos como alerta. Ali moram mais menos 200 famílias e há garrafas pet e sapatos entre as raízes do manguezal.

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